A diversidade cultural de Jaraguá do Sul pode ser percebida já no início de sua história. A cidade foi inicialmente habitada, por indígenas Tupis Guarani, sendo que no século XVII os habitantes eram os índios xoclengues.[1] O nome deriva da língua guarani, “Jara+guá” tem o significado de senhor, dominador ou dono do vale, refere-se ao morro atualmente denominado de “boa vista”.
Em 1864, quando a princesa Isabel casou-se com o Conde d’EU, entregou para o Coronel Emílio Carlos Jourdan a missão de demarcação de suas terras na região de Santa Catarina. Na tentativa de colonização Cel. Emílio arrendou a região onde hoje está localizada a cidade, tornando-se proprietário. Jaraguá do Sul foi distrito de Joinville até o ano de 1934, ano de sua emancipação.
A colonização iniciou quando o Cel. Emilio trouxe, do nordeste, vinte homens negros como escravos para a construção e produção do engenho de açúcar, mais tarde, em acordo com navios que traziam refugiados da Alemanha, Itália e Hungria, Cel. Emilio trazia os estrangeiros para a cidade, com promessa de prosperidade e oportunidade para construírem suas novas vidas.
A cidade hoje é um dos maiores pólos industriais do País, possuindo empresas de referências nacional e mundial como a WEG (metal-mecânica), Duas Rodas (essências), Marisol (têxtil), entre outras.
O fato da cidade ser um importante pólo industrial, proporciona um mercado de trabalho constantemente aquecido, demandando profissionais originados de diversas regiões do país e exterior.
No entanto, podemos perceber que Jaraguá é um lugar de passagem, pois grandes partes dos administradores, consultores financeiros, estilistas e executivos das empresas, são pessoas que moram na cidade, de segunda a quinta feira, dia que retornam para suas residências. Portanto, Jaraguá se caracteriza como um "não lugar”.
Segundo Augé (1994) o não lugar sugere uma caracterização muito comum na contemporaneidade, que é o lugar de passagem. Esses lugares de passagem são justamente aqueles pelos quais os homens passam todo dia, mas não o percebem, não acumulam um valor de sentimento, não vivenciam, apenas passam por ele como se fossem, uma linha reta, mapeada para chegarem onde desejam. A velocidade em que ocorrem as transformações do mundo de hoje, nos fazem anular da memória nossa relação com o espaço onde vivemos.
As transformações acontecem, a cidade cresce, a diversidade aumenta e cria no homem da super-modernidade2 um egocentrismo que prima pela inquietação da correria do dia-dia, pelo saudosismo de um passado que mudou, os homens entram em conflito por estarem dividindo o mesmo espaço, mas não há a mesma percepção dele, porque eles passam pelos lugares e não criam vínculos que em um futuro próximo possa ser relembrado, porque tudo se modifica rapidamente e os vínculos também.
Comecei então a observar que há negação do lugar de passagem que hoje caracteriza Jaraguá do Sul, fortalece o saudosismo, a admiração, e principalmente o orgulho da sociedade jaraguaense, por terem em sua história uma colonização européia. Fato que propicia a cidade ser reconhecida atualmente como um dos maiores pólos industriais. Entretanto paralelo ao orgulho desse status verifica-se um distanciamento ao não aceitarem a contribuição desse trabalhador da super-modernidade para o desenvolvimento econômico e cultural da cidade, favorecendo um etnocentrismo cultural.
Perante tal conflito, passei a indagar a identidade jaraguaense como sendo apenas européia e percebi que não existem registros históricos sobre a cultura dos índios que viveram em Jaraguá, nem sobre os negros que foram explorados como mão de obra no desbravamento das terras e na construção do primeiro engenho.
Creio ser relevante tratar dessas diferenças culturais e propor aos alunos da Escola Estadual Heleodoro Borges ações pedagógicas que possibilite perceberem que as diferenças e conflitos ocorrem naturalmente e surgem em nosso meio cultural não para dificultar o desenvolvimento da cidade e nem dos homens, e sim, para acrescentar novos conhecimentos e novas maneiras de viver e perceber o mundo.
Justamente por estar propondo um novo olhar referente à aculturação ocorrida na cidade, escolhi trabalhar com conceitos da arte contemporânea, por ser uma arte que propõem questionamentos, reflexões de relação e contextualização. Neste caso, escolhi o tema: A mestiçagem nas Obras do Artista Catarinense, Luiz Henrique Schwanke: como Mediadora de entendimento da arte contemporânea.
Mestiçagem abrange um enorme desdobramento de conceitos para seu reconhecimento na arte contemporânea. Entre estes, surgem segundo Cattani (2007), os deslocamentos de sentidos, apropriações e justaposições, desdobramentos e ambigüidades, migrações, poiética/ poética e utopia.
São todos esses deslocamentos que nos ajudam a perceber que a mestiçagem, é diferente do hibridismo. Conforme Laplantine e Nouss (apud.CATTANI, 2007, p.26) hibridismo é o cruzamento de dois elementos de gênero e espécie diferentes. Sendo assim se entende que poderia ser o peixe mais o boi que ao se cruzarem sugerem o peixe-boi. Já a mestiçagem, não causa a difusão dos elementos, eles aparecem timidamente nas produções, mas, cada elemento com sua característica. Não existe a homogeneização dos elementos, o que poderá existir são novos significados.
Na busca de novos significados, para equivocados conceitos de arte, presentes no âmbito escolar, que estarei ocasionando com esta proposição educativa, a oportunidade dos alunos vivenciarem a arte do seu tempo, e procurem desmistificar o estranhamento sucedido pela falta de contato com a mesma.
[1] Para melhor compreensão procurar site de Jaraguá do Sul na bibliografia.
2 ° Conforme Augé (1994) super-modernidade seria a rapidez com que ocorrem as transformações de espaços, lugares e valores na sociedade contemporânea.
Nenhum comentário:
Postar um comentário