quarta-feira, 26 de março de 2014

PALESTRA

ARQUITETURA E MODA: RETRATOS DA SOCIEDADE E SITUAÇÃO POLÍTICA

com Elise Stahlke

A moda se constitui como um dos padrões mais seguros para medir as motivações psicológicas, psicanalíticas e sócio-econômico da humanidade (DORFLES, 1979), porque revela a maneira como as pessoas se comportam e o modo como elas se apresentam na sociedade, ao mesmo tempo em que proporciona a inclusão e/ou a exclusão de pessoas e de grupos do seu contexto social. A sua dinâmica tem uma característica natural de classificar, de selecionar e de diferenciar pessoas na busca da exclusividade e do “novo”, e quando o novo cai no domínio público tem início outro ciclo, isso mostra que está na moda não necessariamente é estar igual (estatisticamente falando) porque a massificação representa a banalização do produto e conseqüentemente a “não-moda”. Neste contexto, o vestuário é que mais ostensivamente representa o movimento da moda, pois a mudança no jeito de vestir apresenta-se em todo o percurso da humanidade como o elemento de diferenciação mais aparente.

O jeito de vestir tem importância desde o Renascimento, quando surge a primeira burguesia apropriando a moda à hierarquia das condições, onde a partir de então as mudanças nas artes e nos modos de vestir passaram a acontecer à mercê do gosto dos poderosos, e a roupa passou a representar riqueza e poder através da aparência e da sua própria estrutura: O tecido com fibras de puro algodão vestia os escravos e a seda vestia a burguesia. As roupas que vestiam a burguesia, principalmente das mulheres, eram recheadas de saias, de armações (crinolinas e espartilhos) e de babados para ficarem pesadas a ponto de impedir a mobilidade natural do corpo. No entanto, isso representava uma posição social na divisão e organização de classes na sociedade, pois quanto mais pesada fosse a roupa tanto mais poder era associado ao conjugue - significava que mais escravos tinha a família para atender as necessidades da esposa (como concubina) e as necessidades da casa.  

Assim, à sociedade foi se estruturando e mostrando o seu valor através do modo de vestir, como se a roupa fosse a sua própria identidade. Essa representação ainda tem valor nos dias atuais, não com tanta veemência porque de qualquer modo a moda não é mais exclusiva a um determinado grupo de pessoas por um longo período de tempo, a dinâmica, que é própria do fenômeno, trata de popularizar qualquer aspecto, pela perfeição ou pela imitação, atingindo a todos os setores da economia.A massificação da moda tomou uma dimensão ainda maior com a introdução da mídia, principalmente, de TV, de revistas e jornais com editoriais de moda. A sua representação se dar através do “design” aplicado ao vestuário, aos tecidos, aos objetos imobiliários e a indústria automobilística, entre outras. Para Caldas (2004) o “design” é um diferencial que deve ser desenvolvido, por sua capacidade de agregar valor aos produtos, representando-se como uma linguagem da cultura contemporânea que alimenta o sistema de moda em proporção ao desenvolvimento das civilizações.

O fato é que através da moda se identifica uma época, um costume, uma cultura, uma sociedade, os grupos sociais separadamente e as suas preferências. O fenômeno da moda tem ciclo de vida próprio com critérios de aplicação (inicio, meio e fim), tem visão temporal (curto, médio e logo prazos), tem forte influência na micro e macro economia do pais e do mundo, e principalmente no comportamento das pessoas, sendo até caracterizado como um socializador que movimenta a dinâmica da sociedade. A exemplo disso temos o uso do cigarro que na década e 70 representava poder e estatus, no entanto hoje é tão somente um problema de saúde pública em todo o mundo. De maneira codificada ela poderá incluir ou excluir pessoas ou grupos de um contexto social até então dito e sentido como seu, podendo conduzi-las a um comportamento muitas vezes não favorável do ponto de vista social, como é o caso de grupos de jovens (de classe econômica mais baixa que chegam a roubar) que se identificam através de roupas de griffe e que se fecham em grupos reduzidos sem que outros jovens tenham acesso, até que se apresentem com roupas parecidas. Isso poderá conduzir a uma situação de conflitos e desintegração familiar, além de outros caminhos em função da não condição social. Tudo isso nos leva a pensar que lançar moda infere em determinar um paradigma que envolve aspectos comerciais, econômicos, culturais e sociais, podendo favorecer ou não a dinâmica de uma sociedade.


Elise Stahlke
Atelier de Alta Moda
elise.stahlke@hotmail.com



A convite da Professora Karin idealizadora do Projeto Culturas Geracionais a estilista e modelista palestrou para as turmas do Ensino Médio.


FONTE: http://fido.palermo.edu/servicios_dyc/publicacionesdc/vista/detalle_articulo.php?id_articulo=5395&id_libro=13

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